sexta-feira, 7 de outubro de 2016

SE APOSSAR DO BELO

SE APOSSAR DO BELO.



Em minha infância convivi com um casal vizinho de origem alemã. No quintal quase comum estava todo dia na casa do tio Rude e tia Helena. Bons momentos de minha tenra infância. Na época tinha menos de cinco anos e, até falava algumas palavras em Alemão.
O que entre outras coisas ficou em minha imaginação foi o quadrinho brilhante de borboletas embalsamadas. Lembro que até corri atrás de algumas pensando em emoldura-las sem sucesso, felizmente.
Estranho é o animal humano. Hoje sei! Tentamos capturar o que achamos belo, transforma-lo num relicário egoísta para nossa admiração e demonstração de posse, como possuíssemos alguma coisa em nossa breve existência.
Vi certa vez um filme sobre hienas, um predador como os humanos. Também possuem uma ordem social como qualquer outro ser vivo que se organiza em grupos. Dominam um território e se sentem confortáveis e fortes tentam dominar a moradia do grupo ao lado. Igual a nós. Porém, ao contrário que fazemos, respeitam o ambiente. Mantendo certa distância. Aquilo que não serve para alimento é totalmente ignorado. O belo se resume no útil, no que os sustenta, nada mais que isto.
A ampliação do belo graças ao aumento do campo visual que impulsionou o primata humano, além do dom da fala complexa deu como colateral o delírio de aprisionar aquilo que tem destaque, conforme a moda de cada civilização. Colocar as borboletas em quadros é apenas uma pálida amostragem do magro Pavão servido em um prato pomposo como refeição de nobres, juntamente com o selvagem suíno com uma maçã na boca.  Como a sala de jantar com pele de ursos no chão e chifres de alce nas paredes, o belo de tornou destruição.
Se os animais têm ou não noção do belo, creio que são indiferentes, não importa. O que vale é que a “invenção do belo” apenas serviu para captura dos mesmos, por meio de assassinatos e, sua consequente extinção e, por outro lado, o indiferente passou a categoria de “feio” sendo eliminado.
Se o quadro das falecidas borboletas, que me trazem tantas recordações agradáveis, representou o belo em minha caminhada, hoje sei que belo é a vida. Aqueles seres vivos deviam estar voando na natureza. Estariam presentes até hoje.
Na civilização atual o belo foi restringido a frias formas de concreto, onde se tenta dar movimento as estruturas impessoais imitando as borboletas libertas da moldura que as aprisionava, agora é tarde! Elas se dissolveram como toda matéria orgânica se dissolve no tempo e foram extintas.

IMAGEM GOOGLE

07/10/2016

Tony-poeta

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