sábado, 21 de fevereiro de 2015

A POSSE E O AFETO

A POSSE E O AFETO.


Lembro do Tio Patinhas, as revistas com o personagem eram trazidas por meu pai desde que começaram a sair no Brasil. Eram grandes, com tamanho de meio caderno de jornal
O que me chamava atenção era aquele personagem numa sala de moedas, sempre solitário. Será que Disney associou a solidão à posse de objetos?
A época era de dificuldades no País, golpes de estado, ditaduras e Planos econômicos que lembravam outra figura dos quadrinhos: O Cebolinha com os planos infalíveis para derrubar Mônica. Até os primeiros anos de Faculdade, na República compravam-se as revistinhas, sempre com o mesmo tema. Era época da Ditadura, mas o desenho se repetia.
Hoje a penetração das revistas é muito menor, a televisão e a internet, com suas imagens substituíram o desenho, mas o tema mudou?
Não, com o isolamento das pessoas os objetos começaram a ter valor aumentado. Percebi que cada vez que me sentia solitário, coisa habitual em nossa sociedade, o desejo de adquirir alguma coisa aumenta, e muito.
Como “dinheiro não dá em árvores”, dirigi meus desejos para as lojas de R$ 1,99 que apaziguavam o mesmo e não pesavam no orçamento.
Conversando com pessoas que viajam para dentro e fora do País, percebi que boa parte da viagem, talvez a maior dependendo do destino, se resume a comprar “pechinchas” no local de destino, em detrimento dos lugares pitorescos que esta pode proporcionar.
Parece-me lógico que o objetivo de uma viagem é conhecer pessoas, costumes e lugares diferentes, não lojas que tem uma fachada quase padronizada. As viagens para compras, atualmente é moda buscar enxoval Chinês nos Estados Unidos, parece um bom pretexto para passeio e não uma economia substancial; colocando-se a passagem, a hospedagem e a alimentação.
Creio que a vida atual isola as pessoas, o contato passou a ser virtual ao invés de presencial. Nas grandes cidades o hábito de fazer visitas tornou-se mais restrito e ausente em alguns grupos. Por outro lado a máquina da propaganda tornou-se mais eficiente e, a comunicação eletrônica permite a compra por catalogo, sem sair de seu computador. A carência de contato humano torna-se importante.
O desejo de compra visto por este prisma, em um País com a economia estável pela primeira vez desde que nasci dá uma falsa noção de poder, poder este que não pode ser extrapolado em uma roda familiar ou de amigos, a situação de desamparo leva a compras desmedidas e desnecessárias. Por outro lado a mesma noção de Poder transforma as pessoas em miniaturas do Tio Patinhas colecionando objetos desnecessários, que nunca serão completos já que a carência é afetiva e objetos não suprem afetos.
Pensando bem, todos deveriam adotar a lojinha de 1,99, hoje está 4,99 como formas de não desperdiçar dinheiro e voltar a visitar amigos e parentes e tomar uma cerveja com eles, será muito melhor para a auto-estima de cada um.
Tony-poeta
03/12/13

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