PARAR
DE FUMAR.
Ariovaldo acordou
preocupado, era um sábado chuvoso. Nestes dias nublados sempre fica melancólico;
o pior que o médico no dia anterior falou taxativo: - Você tem que parar de
fumar. Já fuma há trinta anos, sua barriga está com um metro e vinte, seu
colesterol está alto, se não para vai morrer de infarto.
Bem que o doutor quis
dar um calmante para ajudar, ele que não aceitou, estava arrependido de ter
falado: - Sou responsável por minha saúde, paro na marra!
- Agora tenho que
cumprir, pensou e começou a fazer as contas:
- Gasto dez reais
por dia, em um ano três mil seiscentos e cinquenta, em trinta anos, saiu para
pegar a calculadora, há muito não fazia contas de cabeça. Fez a conta:
- Cento e nove mil e
quinhentos reais de cigarro. Tenho mesmo que parar. Dá para comprar um carrão,
pagar o licenciamento, colocar gasolina e ainda sobra. E eu com este carro velho,
se Renata vê esta conta me mata. Ainda bem que está na casa da mãe.
- Acho que a barriga
vai aumentar e não diminuir. Bem, vou para academia e faço abdominais. Pensando
bem vou perder as calças, as cuecas. Pela economia dá para comprar novas no
Morumbi, vou andar na moda antes de comprar o carro novo.
- Vamos começar. Foi
até a farmácia comprar os adesivos e as pastilhas de nicotina para os primeiros
dias.
- Que coisa cara!
mas com a economia vai valer a pena.
- Como será que eu
começo? Pensou. Já sei: - Fernando falou que de início fumar de hora em hora
poderia ser uma boa. Não foi para ele, não durou duas horas. Mas vou fazer
isto. Foi almoçar no barzinho em baixo, já que estava só. Voltou e fez a sesta.
Levantou às duas e
meia. Lavou bem a barriga onde não havia pelos, conforme orientava a bula.
Colocou o adesivo. Olhou par o relógio: Dez para as três.
- Vou fumar em hora
cheia, cada vez que o ponteiro dos minutos chegar ao doze, fumo um cigarro, na
segunda feira passo para de duas em duas horas, combinou consigo mesmo.
Pegou uma cadeira e
foi a parede adiantar o relógio para ficar na hora certa. Três horas, acendeu o
cigarro para começar. Fumou lentamente como um condenado à morte. A seguir foi
ao quintal regar as plantas.
Voltou para dentro
da casa, o relógio estava com o ponteiro dos minutos na hora de fumar. Acendeu
outro cigarro, fumou demoradamente e foi ao quarto ler uma revista.
Acabou o artigo,
passou pela sala e já era hora novamente. Fumou de novo e foi a calçada jogar
papo fora. O vizinho falou de futebol e tirou um sarro que o Palmeiras estava
mal. Ficou bravo, cortou logo o papo e voltou. O ponteiro marcava hora de
fumar.
- Já, de novo? Olhou
melhor o relógio e estava parado nas três horas. Tinha deslocado a pilha para
arrumar o mesmo. Viu a hora certa. Quatro e quinze.
Ficou muito nervoso,
acertou o relógio irritado consigo mesmo, não admitia errar, e deste modo tão
idiota. Automaticamente, sem pensar acendeu um cigarro. Súbito deu-se em conta
de estar fumando.
Pensou, deu uma
tragada, pensou de novo e concluiu:
- Sábado não é um
bom dia para isto, ainda mais com chuva. Começo segunda. Deu uma gostosa
baforada.
26/09/14
Tony-poeta
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